Olhos de Ver

Toda a gente sabe que vivemos numa sociedade heterogénea, desequilibrada, cansada e abarrotada dos mais diversos problemas. O que no fundo não é novidade nenhuma.

E todos esses problemas surgem das mais diferentes razões e circunstâncias, desde vicissitudes naturais, a adversidades causadas pela raça humana.

Humanos, nós, que cada vez mais demonstramos que temos grandes e graves problemas de visão. O que desencadeia um vasto conjunto de perturbações e desilusões pelo qual não esperamos, mas que analisando anteriormente de forma cautelosa e prudente, eram previsíveis.

Falando concretamente sobre esses mesmo problemas de visão, não me refiro a doenças oftalmológicas como a cegueira, miopia e cataratas, mas sim a algo do género como falta de observação, dietas de raciocínio e a pouca valorização do que realmente importa.

No fundo, as pessoas hoje em dia não vêem o que realmente é significante. O importante são futilidades, coisas supérfluas, bem como a quantidade de etiquetas presentes na roupa de alguém.

O pouco tempo de existência neste solo que piso diariamente, fez-me entender isso e a melhor prova disso é a zona em que habito, bem como o testemunho visível deixado pelos meus antecessores.

E apesar do desemprego ser uma marca diária e constante no território onde resido, tenho noção que vivo bem próximo de uma autêntica Fábrica de Heróis. 
Onde legados foram deixados, onde exemplos foram ensinados e transmitidos a quem se sucedia na árvore genealógica.

E todos nós, que temos um Super-Herói dentro de nós, também temos presença nessa mesma indústria, bem como os nossos pais, os nossos tios, os nossos avós, no fundo todo o tipo de pessoas dos mais diversos feitios e personalidades, cargos ou empregos.
Uns assumem o seu cargo mais cedo, outros mais tarde, e outros nem interessados estão.

No entanto, esta mesma Fábrica já viveu dias melhores. 
São cada vez menos os exemplos, cada vez menos as pessoas que os praticam e que os divulgam a quem lhes é próximo.

A falta de valores, de ética, de civismo e de senso comum, é o reflexo das gerações actuais, que no fundo não dão valor às pessoas que têm em casa, e ao esforço que estas mesmas fazem para que nada falte para comer, vestir, ou para serem felizes.

Como um pai que chega a casa fatigado após mais um dia de trabalho, onde deu horas extra, que tira o traje do ofício imundo e suado, mas que automaticamente "veste" e assume o papel de Super-Homem assim que entra no lar.

Onde todos os dias dá o máximo de si pelo mínimo de um salário.
Onde diariamente faz uma ginástica financeira para puder pagar todas as contas pois o dinheiro não estica.
Onde perde horas de sono, enquanto planeia estratégias de modo a reduzir custos.
Entre variadíssimos exemplos que ficam por se dizer.

E onde por exemplo, a filha de 16 anos o apelida de pior pai do mundo, pois este não a autorizou a ir à discoteca por ser nova de mais, e por achar que o álcool, o sexo e as drogas são más companhias para alguém tão jovem.

Onde esse pai, como outros tantos, com a idade actual dos filhos, já trabalhavam e sabiam o peso das responsabilidades.
E "nós", queixamo-nos da vida que temos, quando devíamos era agradecer pelo que temos e sentirmo-nos uns felizardos por não passarmos fome ou frio.

Eu, no meu caso, sempre quis, quero e tentarei ser um exemplo para alguém. 
Não de modo geral, nem com a intenção de que alguém faça como eu, ou seja como eu. Mas sim, ser uma referência em certos aspectos, tal como inúmeras pessoas foram e continuam a ser para mim.
Pois nunca é tarde para lições.

Se outrora já tinha esse desejo, quando o meu Pai partiu esse objectivo ganhou ainda maiores proporções. 
Mesmo que seja cedo, foi a altura escolhida e é a partir daí que se deve dar continuação aos moldes e padrões que têm atravessado as gerações anteriores. 
Por isso quero também marcar presença nessa indústria, quero continuar o trabalho deixado por ele, para que a máquina de produção "Santos" não tenha fim.

Apesar de ter deixado a 'Fábrica', continua a ser o maior Herói que pude alguma vez conhecer, e tenho muito orgulho nisso. 
Quanto à minha mãe continua lá no seu posto, cumprindo perfeitamente a sua função e produção.

Toda a gente tem a aptidão necessária quer seja para se tornar num exemplo para alguém, quer seja para ser alguém melhor no mundo.
E quando falo em 'visão', refiro-me a isso, à forma de como ver as coisas, a ver as coisas de um outro lado, de outra forma.

E tenho aprendido muito com esta experiência do blogue. Quem diria que um pequeno teste chegaria às 8 mil visitas, e que chegaria a vários cantos do mundo, inclusive a comunidades portuguesas no estrangeiro.

Fez-me conhecer novas pessoas, algumas do outro lado do país, ou até emigrantes em busca de uma vida melhor, que através dos mais diversos meios me pedem opiniões, desabafam e procuram alguma 'orientação' tendo em conta os obstáculos que a vida lhes dá.

No entanto, tenho-me mantido à parte disso.
Não que não queira dar conselhos ou opiniões, mas que não quero ganhar qualquer tipo de 'estatuto' com isto ou com o que escrevo. Por vezes não respondo a comentários, ou publicações, e não é por não querer ou por não prestar atenção.. é mais por, irónicamente, não saber o que dizer.

Estou longe de ser perfeito, a anos de luz, tenho milhares de defeitos como qualquer outra pessoa tem, e nem sempre estou certo, nem com a minha vida amorosa.

E basicamente as minha respostas são de agradecimento pelo reconhecimento, e de seguida 'guiar' essa pessoa para o caminho correcto, mas pelos seus próprios passos. Pois todos temos essa capacidade!

O objectivo é "abrir" os olhos a quem lê, a quem acaba de perder uma batalha e acha que acabou a guerra aí.
E por vezes dizem-me para apostar mais, que quem sabe poderia ter futuro, mas eu só me rio.. Porque, como já confessei com quem me é mais próximo, seria incapaz de ganhar dinheiro com algo que considero tão simples e que qualquer pessoa pode fazer.

Não é mais que uma análise minuciosa e cautelosa ao mundo em que vivemos. E os meus olhos, que apesar das misérias que diariamente observam, do pouco espanto que ficam ao ver a realidade dos dias de hoje, tentam sempre ter uma melhor perspectiva do mundo que os rodeiam.

E tu que estás a ler isto, que tens acesso à internet, que estás a ler isto num computador, num telemóvel ou o que quer que seja, que provavelmente estás
vestido com a roupa que gostas, que acabaste de te alimentar há pouco, que não passaste frio hoje, que provavelmente ainda és estudante.. pensa para ti mesmo, a quem se deve tudo isto?

Vês como tenho razão?
Como tens Super-Heróis em casa?
Ora vê... mas com olhos de ver!